A Irmandade dos Filósofos Desconhecidos visa à esmerada e rigorosa formação cultural de seus membros, a fim de lhes permitir transitar livremente pelas mais altas indagações de natureza filosófica e esotérica. Em seu aspecto de academia Iluminista, encontra sua origem em um plano suprahumano e esforça-se por desenvolver a espiritualidade de seus membros pelo estudo do Mundo Invisível e de suas Leis, pelo exercício do devotamento místico e da assistência intelectual, bem como pela criação, em cada espírito, de uma fé cada vez mais sólida, baseada na atitude observativa e empírica e na ciência. Espera-se, assim, que seus membros sempre tenham em mente as altas expectativas neles depositadas por seus professores e, sobretudo, pelo Iniciador, bem como levem tal propósito em consideração ao formular convite de ingresso a novos candidatos, lembrando-se, nessa oportunidade, que se a Iniciação esparge suas luzes para todos, a Irmandade dos Filósofos Desconhecidos aspira à formação de uma elite no seio do esoterismo tradicional.
É, a um só tempo, contemplativa e operativa, mística e mágica. Seu curriculum é estruturado no trivium hermeticum – alquimia, astrologia e teurgia -, secundado por ciências tais como filosofia, psicologia, mitologia, religiões comparadas, cabala, angelologia, magia, adivinhação, psicurgia, magnetismo e outros grandes temas das Tradições Esotéricas do Oriente e do Ocidente. Conforme preconizado por seus fundadores, tal é o caráter da Ordem Martinista, muito embora se compreenda ser impossível encontrá-lo integramente em cada um dos membros da Ordem, pois cada Iniciado representa uma adaptação particular dos seus objetivos gerais.
Mas, qual é a base de nosso processo iniciático? Um ritual de nossa Ordem assim explica:
"Encerra a filosofia de nosso Venerável Mestre, baseada especialmente nas teorias dos Egípcios, sintetizadas por Pitágoras e sua Escola. Contém, em seu simbolismo, a Chave que abre o mundo dos Espíritos e que não está cerrado; segredo inefável, incomunicável e unicamente compreensível ao verdadeiro Adepto. Este trabalho não profana a santidade do Véu de Ísis por imprudentes revelações. Aquele que é digno e está versado na História do Hermetismo, em suas doutrinas e em seus ritos, em suas cerimônias e hieróglifos, poderá penetrar na secreta, porém real, significação do pequeno número de símbolos oferecidos à meditação do Homem de Desejo."
Também é válido citar um curto trecho da obra de Valentim Tomberg, o qual descreve brevemente como se dá o processo iniciático dentro da Filosofia Hermética:
"O Iniciado sabe como atingir o saber, isto é, sabe pedir, procurar a resposta e por em ação os meios apropriados para chegar a ela. Assim, a Filosofia Hermética não ensina o que é necessário crer a respeito de Deus, do homem e da natureza, mas ensina como pedir, buscar e bater para se chegar à experiência mística, às luzes gnósticas e ao efeito mágico daquilo que se procura saber sobre Deus, o homem e a natureza. A Filosofia Hermética não é composta da Cabala, da Astrologia, da Magia e da Alquimia. Esses quatro ramos nasceram do tronco e vivem dele, mas não o constituem. O tronco é a unidade manifestada da Mística, da Gnose e da Magia Sagrada. Sobre ele não existem teorias, mas experiências, inclusive a experiência intelectual dos arcanos e dos símbolos. A experiência mística é a sua raiz, a experiência gnóstica da revelação a sua seiva e a experiência prática da Magia Sagrada a sua madeira. Por isso o seu ensinamento – ou o ‘corpo’ da tradição – consiste em exercícios espirituais e todos os seus arcanos são exercícios espirituais práticos cujo fim é despertar camadas cada vez mais profundas da consciência. As ciências ocultas são, pois, derivadas da Filosofia Hermética pela via da intelectualização. Por isso não se deveria considerar os símbolos como expressões alegóricas das teorias ou dos conceitos dessas ciências. Porque a verdade é o contrário: as doutrinas das ciências ocultas é que são derivadas dos símbolos e devem ser consideradas como expressões intelectualmente ‘alegóricas’ dos símbolos do Esoterismo Hermético."
Enfim, somos uma escola de alto Hermetismo que prefere a qualidade à quantidade. A Iniciação é o resultado de um ensinamento que depende de um desenvolvimento que parte de uma formação pessoal. Ela é gradual e dá-se conforme as capacidades e possibilidades daquele que pretende seguir as etapas do seu treinamento antes de chegar aos graus superiores. Este é o sentimento que podemos extrair de parte do célebre discurso pronunciado por Stanislas de Guaita e que encontramos no seu clássico “No Umbral do Mistério”:
"Fizemos-te iniciar: o papel dos iniciadores deve limitar-se aqui. Se chegares por ti mesmo à inteligência dos Arcanos merecerás o título de Adepto; mas, vê bem; seria em vão que os mais sábios Mestres quisessem revelar-te as supremas fórmulas da Ciência e do Poder mágico. A Verdade Oculta não poderá ser transmitida em um discurso: cada um deve evocá-la, criá-la e desenvolvê-la em si. És Iniciado: aquele que outros colocaram no caminho; esforça-te em chegar a Adepto, aquele que conquista a Ciência por si mesmo; em uma palavra: o Filho de suas obras."
O discurso de Stanislas de Guaita, cuja extensão impossibilita a sua transcrição integral, merece estudo e reflexão. Nele é desenvolvida a seguinte doutrina: a Iniciação é, certamente, o resultado de um ensinamento, porém há em seu transcurso um intenso trabalho de formação pessoal.